Johnny Cash em San Quentin, 1969

domingo, 23 de agosto de 2009

Já percebi que ficar sem ouvir o San Quentin do Johnny Cash durante muito tempo é um atentado à bomba por tudo aquilo que quero. And the tears I cried for that woman/ are gonna flood you, Big River. Nunca um albúm ao vivo reproduziu, além da música nele gravada, vento, mas de ventoinhas daquelas velhas com aquele barulho e fresquinho tão caracteristícos; sente-se um chão frio, azul por baixo de nós; passamos a estar sentados numa cadeira barata e é neste cenário monótono e arrepiante, onde os guardas guardam cada porta por onde possamos tentar fugir,que o próprio som começa a ganhar mais treble, até darmos conta que à nossa frente está um homem cheiinho, mais novo do que aparenta, com uma viola em punho, que se torna mais perigosa que qualquer arma que um de nós tenha usado seja para o que for, com um baterista rápido , tão eficaz quanto o guitarrista e baixista que lhe cimentam o edificio de nunca falar o ritmo, mais uma mulher que obviamente lidera as outras duas do coro, com alguma distinção humilde, e convidados que vão e voltam.
Cada palvra afunda o pé mais fundo na areia movediça do nosso pensamento. Cada vez que aquelas cordas vibram, as muralhas tremem. Ouve-se para lá dos muros que nos impedem do mundo exterior, e, ao chegarem ao lado de lá, afuguentam os que por lá passam.
Esta música é eficaz, é rápida. Este homem é o meu messias. O Johnny Cash, que como nós lutou, Because you're mine,/ I walk the line, lidera agora as nossas vidas, como se fossem dele, como se fossem a dele. A voz é elegante e cativante. Vê-se que ele não falha. O contacto que mantém connosco, prisioneiros, não mais nem menos, dá-nos a esperança que lá fora, como este homem, há um mundo que me compreende, que sabe que só aqui estou injustiçado. Este homem desafia os guardas e desafia-nos a nós, prisioneiros e puxa o melhor de nós, o nosso animal certeiro, o nosso instinto que não nos pode trair.
Tudo isto dura enquanto isto durar, uma hora, duas horas, e ao fim de cada vez já sabemos como vai ser da próxima, que tudo vai voltar.
Johnny Cash live in San Quentin foi gravado e editado em 1969. As long as I got legs to stand on,/ I'm gonna stick by you. O guitarrista original do Johnny tinha morrido meses antes, depois de o acompanhar desde o inicio e por toda a carreira até então: Luther Perkins. San Quentin I hate every inch of you. Nunca Johnny Cash tinha feito da sua vida uma confusão tão grande, e nunca dessa confusão saiu tão cru e inspirado.

Quando este albúm saiu, faz agora 40 anos, a minha mãe tinha 2 anos. Mas porra, eu também já tive no concerto do Johnny Cash em San Quentin. E quem quiser entrar tem sempre a porta aberta, o espectáculo não acaba.

And he said: "Son, this world is rough
And if a man's gonna make it, he's gotta be tough
And I knew I wouldn't be there to help ya along.
So I give ya that name and I said goodbye
I knew you'd have to get tough or die
And it's the name that helped to make you strong."

He said: "Now you just fought one hell of a fight
And I know you hate me, and you got the right
To kill me now, and I wouldn't blame you if you do.
But ya ought to thank me, before I die,
For the gravel in ya guts and the spit in ya eye
Cause I'm the son-of-a-bitch that named you "Sue.'"

2 comentários:

Anónimo disse...

Tres poetique, meu caro John.

Fil

Cath disse...

Isto está tão genial! A Blitz precisa tanto de ti, Gordinho. Esse homem era um Deus e tu soubeste mostrar a sua grandeza. :D

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